Nós almoçamos juntos como de costume, eu pedi pra você ficar, como de costume. Era um dia normal, senão o fosse. E você ficou. Nós nunca tivemos muitos assuntos, aliás, nós nunca tivemos muitas palavras, assuntos sempre tivemos.
Você estava sentado na cadeira encostada na parede, parede na qual a um ano atrás escrevíamos sobre você.
Trocávamos as meias palavras de dias de outrora, só que agora quase tínhamos coragem para palavras inteiras, quase.
Você quase me deixava te tocar como antes, quase. E eu, quase recuava como agora, quase.
Naquela sala quase vazia onde tudo começou. Você sentado com tua companheira de sempre, no mesmo lugar onde eu a pouco tempo deixava escorrer pelo rosto o efeito da tua ida. Agora, você quase esteve de volta, quase.
Tu sentando apoiado no mundo que carregas nas costas. Adaptado aquela dor. Eu sempre achei essa cena triste, carregada de uma beleza encantadora. Eu sentada na tua frente, olhando pro céu enquanto quase me asfixiava em todas as coisas que eu queria um dia ter te falado. Quase, quase me asfixiei, quase falei, quase.
Nós sabíamos o que estava acontecendo, sempre soubemos. Era chegada a hora. E pela primeira vez eu vi. Eu coloquei os meus olhos nos teus, e vi. Você deixou , você finalmente tinha deixado. Tudo estava se exaurindo, o mundo em que vivíamos estava nós expulsando e você, nunca mais.
Era tempo de adeus, e eu e você nunca soubemos o fazer, nunca o saberemos.
Aline chegou. Estava triste. Por saudade ou por amor, assim ficou.
Naquela sala quase vazia, cheia de pessoas. Cada um ali lidava com os próprios anseios. Pouco importava as nossas banalidades de quase. Mas não hoje, a nossa novela estava chegando ao último capítulo, os espectadores ansiosos para o desfecho esperavam e observavam quase diretamente.
A sala quase vazia. O ultimo dia. O professor esperando para conversar comigo como antes. Eles. Eu sufocada. Tu ganhando ainda mais peso para carregar. Ela chorando. No fim, os nossos anseios eram os mesmos.
Aline está chorando. Eu a abraço, como melhores amigas que somos, que éramos. Tu olhando, quase querendo fazer alguma coisa para parar, mas não te é permitido fazer isso. Eu te olho como quem cobra ajuda. Não por ela.
De certa forma, eu achava que você ajudá-la compensaria o que você não, por mim.
Mas não. Nunca.
A sala quase vazia. Ela no canto ouvindo música. Tu sentando na minha frente, distante… Eu só quero adormecer e fugir de tudo aquilo.
Teu cheiro, que a muito tempo não mais, volta. Eu sempre gostei de dormir sentindo ele.
Roubei a tua blusa, que a algum tempo não mais tinha feito. O melhor de todos os travesseiros, quase esteve de volta.
Mas nem o teu cheiro conseguiu me adormecer.
Quando eu to com você, o tempo perde a noção dele mesmo. Ele passa uma eternidade em meros 50 minutos. O tempo é infinito. É a mesma sensação de ouvir Heroes do Bowie.
E mais uma vez você vai embora… ”
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